HISTÓRIA DA DOENÇA DE ALZHEIMER
O termo Demência e seu significado não são totalmente desconhecidos, porém estamos conscientes de que existem muitas dúvidas no que se refere à fisiopatologia, quadro clínico, evolução, tratamento farmacológico e não farmacológico, especialmente entre a população leiga, ou os cuidadores de pacientes que sofrem de Demência.
A prática clínica diária nos faz perceber diferentes necessidades entre aqueles que nos procuram. Também notamos a enorme sobrecarga objetiva, e principalmente subjetiva que os cuidadores destes indivíduos apresentam, razão pela qual pensamos na elaboração do presente trabalho para o atendimento das necessidades de informações que os cuidadores têm, acerca de alterações importantes com as quais terão de lidar em algum ponto de evolução da doença.
Pretendemos ainda esclarecer as melhores maneiras de cuidar do paciente com Demência, entendendo as limitações apresentadas por estes indivíduos para execução das atividades de vida diária (AVD), e as atividades instrumentais de vida diária (AIVD), que gradualmente comprometem sua independência, levando-o à necessidade de auxílio de outros para atividades elementares. Abordaremos ainda de maneira clara e simples os transtornos não cognitivos, ou alterações de comportamento, que podem surgir na evolução da Demência e que são, muitas vezes, responsáveis pela sobrecarga subjetiva do cuidador e conseqüente institucionalização. Desejamos que o leitor satisfaça aqui ao menos parte daquilo que, a nosso ver, é necessário para a promoção de adequada assistência ao portador de Demência e sua família.
Histórico da Doença
Alois Alzheimer, médico alemão que viveu entre a segunda metade do século XIX e o início do século XX, publicou, em 1907, o artigo A characteristic serious disease of the cerebral cortex, em que apresenta os achados clínicos e anatomopatológicos de um caso peculiar.
Auguste D. foi atendida inicialmente aos 51 anos, quando passou a apresentar sintomas delirantes (ciúmes intensos) em relação ao marido. Alterações de linguagem e de memória, além de desorientação no tempo e no espaço instalaram-se logo em seguida, com piora progressiva. A paciente faleceu quatro anos e meio após o início dos sintomas, em estágio avançado de demência, e foi submetida a exame anatomopatológico.
Alzheimer observou acúmulo de placas características no espaço extracelular (placas senis) e lesões neurofilamentares no interior de neurônios, distribuídas difusamente pelo córtex cerebral.
Cinco anos após, em 1912, o renomado professor de Psiquiatria alemão E. Kraepelin faz pela primeira vez menção, em seu compêndio de Psiquiatria, a “esta doença descrita por Alzheimer”. A partir dessa época, o epônimo Doença de Alzheimer passou a ser utilizado para os casos de demência ocorrendo na faixa etária pré-senil (antes dos 65 anos) e que apresentavam características clínicas e neuropatológicas semelhantes à paciente inicialmente descrita.
Durante várias décadas, esse diagnóstico ficou reservado a tais casos de demência degenerativa présenil, em oposição aos casos bem mais freqüentes - e já conhecidos no início do século XX - de Demência Senil.
Esta dicotomia teve raízes em disputas acadêmicas entre diferentes escolas psiquiátricas alemãs naquela mesma época. Foi apenas muitas décadas após, no final dos anos 60, que diferentes estudos demonstraram que a então denominada Doença de Alzheimer e a Demência Senil eram, na realidade, a mesma condição clínico-patológica, embora com algumas diferenças de apresentação clínica.
A partir da década de 70, o termo Doença de Alzheimer passou a ser empregado de forma indistinta para os casos de demência degenerativa que apresentavam as lesões cerebrais descritas (placas senis e emaranhados neurofibrilares), independentemente da faixa etária de início dos sintomas. Em 1984, um grupo de pesquisadores propôs critérios diagnósticos para a Doença de Alzheimer, que, a partir de então, passaram a nortear as pesquisas e a atividade clínica de atendimento a estes pacientes. Esses critérios serão apresentados adiante.
Com o aumento substancial da expectativa de vida da população mundial verificado nas últimas décadas, a Doença de Alzheimer tornou-se um sério e importante problema de saúde individual e coletiva, em decorrência da significativa incapacidade que acarreta aos pacientes, das influências sobre os familiares e cuidadores, além dos custos diretos e indiretos que ocasiona.
Autor dos artigos acima: Dr. Ivan Hideyo Okamoto Neurologista Coordenador de neurologia do NUDEC-UNIFESP