sábado, 2 de maio de 2009
EU, BETE, MINHA HISTÓRIA
Olá a todos! Sejam bem-vindos ao blog. Meu nome é Elizabete, 49 anos.Tive AVCH em 16/09/2004, e hoje venho relatar a minha história.
Às vezes somos avisados(as) pelos sintomas, mas raramente é descoberto a tempo. No mês de fevereiro de 2004, sete meses antes de ter o avc, em um domingo, acordei com o lado direito do corpo adormecido, sem forças e dor de cabeça.
Fui até o Hospital Sino-Brasileiro em Osasco, onde após exames, nada foi detectado. Conclusão ao qual chegou o neurologista de plantão: estresse e ansiedade. Relativo, pois estava trabalhando há 4 anos sem férias, fazendo cursos, vida totalmente corrida e estressante. Mas as dores de cabeça continuaram. Resolvi fazer exames mais profundos. Foi feito eletrocardigramas, tomografia computadorizada, exames de laboratório. E nada! Tudo normal. No decorrer dos meses, sentia que algo não estava bem e me lembro que mais ou menos um mês antes, dirigindo na Marginal, senti um lapso de memória (tipo um apagão). Foi muito rápido, por sorte não perdi o controle. NÃO sabia por minutos onde estava.
Daí em diante, comecei a errar caminhos que percorria todos os dias. E, de repente, uma crise asmática.
Voltei ao hospital. Mais exames. Diagnóstico: bronquite asmática. Remédios e mais remédios sem resultados.
Tomei uma decisão: sair de férias. Mas, infelizmente me foi negada. Só poderia ser concedida em fevereiro de 2005.
No dia 16/09/2004, após um dia corrido de trabalho, chegando em casa tudo normal, não sentia absolutamente nada. Busquei meu filho na estação de trem, e resolvi ir a igreja. Era uma quinta-feira 19.00horas. Lembro-me bem: garoando. Fui de carro. Era próximo de casa, mesmo assim fui de carro, tudo tranquilo.
Exatamente 21.00 horas, quando terminou a reunião na igreja, um zumbido estranho no ouvido esquerdo, (surdez repentina), dor frontal na cabeça e na nuca. Sensação horrível. Mas mesmo assim, entrei no automóvel para tentar chegar em casa. No caminho, a dor era intensa. Estacionei em frente a uma farmácia e pedi uma aspirina efervescente. Tomei ali mesmo, voltando ao veículo. Náuseas, tonturas, estranha sensação de falta de forças. Ao tentar ligar o carro, percebi que não tinha mais movimento na mão e no membro inferior direito... Olhei no retrovisor central: olhos e boca tortos totalmente tortos. Mas não me desesperei...
Liguei pra minha irmã que veio, creio que no máximo em 10 minutos. Fui arrastada de dentro do carro totalmente sem coordenação alguma sobre meu corpo falava enrolado e dor intensa.
Mas, graças a Deus, consciente. Fui direto pra uti do mesmo hospital ao qual já havia ido várias vezes.
Estranho que não havia medo e nem desespero em mim, em momento algum. Balbuciei ao perguntar para o médico: “O que está acontecendo?” Me disse:“Você está tendo um avc” AVC? Nunca tinha prestado nem atenção sobre esse assunto. E sim, raramente, ouvido falar em derrame. Enfim mesma coisa. Pressão arterial 22/12, entubação, a dor na nuca era a pior pois sentia a nuca latejar, e algo jorrava forte em meu cérebro.
Tomografia, semi coma, mais mesmo assim ouvia o que diziam....o médico disse a família não sei bem p/ quem pois não gostam que eu fale neste assunto, disse assim: “Nada a fazer, 5% de chance é o que ela tem”. Lembro-me que minha irmã , que me socorreu, disse: “Sim, mas para Deus reservo os outros 95%.”
E assim se foi naquela UTI, por longos dias entubada, oxigênio e uns aparelhos apitando atrás do leito.
Pelo que minha irmã disse, depois de sete dias, uma reação. Consegui falar e queria tomar banho de chuveiro. Assim foi feito com muito sacrifício. As enfermeiras me colocaram na cadeira de banho, mas a tontura era terrível, total. Desrealização, rebelde como sempre e sem coordenação. Tirava o oxigênio com a mão esquerda..
Enfim, foi feita uma angio. Terrível, não gosto nem de lembrar, aquele catéter da virilha para o cérebro com contraste. O neuro, após o exame, direto e reto: o cérebro foi lesado em 70%, teria vida em constante risco, mas sem chances de voltar a andar. Mais quinze dias de leito, fora da uti, num certo dia, pedi para ir pra casa. Muita luta mas me deram alta... Assim se foi sem coordenação, cadeira de rodas e banho, fraldão, sondas e tudo mais, menos traqueo....
Eu, muito confiante e não aceitando a situação, começaram as sessões de fisioterapia em casa, muitos remédios, pressão oscilava sempre. Idas e vindas ao hospital, muita luta. O fisioterapeuta começou a ensinar a ter controle, ou melhor, na coordenação, sentar na cadeira e controlar o corpo sem cair,não tinha controle na parte fisiológica não aceitava mais a fralda.... Num certo dia me ensinou a sentar na cama, pra que passasse da cama pra a cadeira de rodas.... Mas, obs: nunca sozinha, sempre alguém por perto.
Eu, totalmente rebelde e não aceitando a situação, resolvi tentar sozinha (total desequilíbrio), cai da cama e quebrei o nariz: 5 pontos e hospital novamente,só que o sangue que estava parado na cabeça eu creio, não sei só pode,veio pra a face, não se via nem meus olhos de tão escuro que ficou. Mas, tudo bem, a partir deste dia, as dores de cabeça diminuíram, e após este episódio os dedos do pé direito deram sinal de vida. Vibrei....Voltei as sessões de fisio com mais intensidade, apesar de muita dor na perna..
Enfim, lapsos de memória, confusões mentais,veio junto uma enorme depressão,mais muito confiante,e a tinha pressa não aceitava a demora da recuperação,pois queria voltar a trabalhar,mesmo estando rodeada de afeto, carinho atenção....e de um grande profissional,que devo muito a ele . Na sessões de fisio, ele me dizia: “Tenha fé,que você vence”
Em 11/05/2005, outro AVC, mas sem graves consequêcias.. Até que então a psicóloga no hospital, me orientou sobre minha ansiedade, minha pressa de ficar boa... Isto estava atrapalhando na minha recuperação. Deveria ter calma e paciência, coisa que nunca tive.... Eu era acostumada a ser muito agitada ligada no 220, falava muito, gesticulava, e estava me tornando uma pessoa revoltada com a situação. Tinha perdido até a fé, achava que Deus tinha me esquecido. Aprendi a aceitar minha nova situação, mesmo tendo que tomar antidepressivos fortíssimos que me faziam dormir quase dia todo, até que Deus, na sua infinita misericórdia, me fez reatar minha fé e ter ânimo pra lutar, mas lutar com calma, passo a passo..Hoje vejo este episódio com outros olhos, que tudo na vida não é por acaso.
Creio que aprendi a ser mais humilde, mais humana, mais amiga, mais gente.
Há dois anos mais ou menos, me foi presenteada uma campanha espiritual pelo vereador Fábio Terruel, campanha que me fez adquirir confiança, tranquilidade, fé e acreditar que Deus nunca nos abandona, e hoje, graças a Deus, não tenho mais lapsos de memória, e senti que deveria compartilhar com as pessoas que passam pelo mesmo que passei e passo. E na Internet, encontrei pessoas maravilhosas, resolvi então com a ajuda dos meus filhos.abrir uma comunidade. Agora temos um chat, e com a ajuda de um anjo que se chama Suely agora um blog pois o espaço da comunidade Sobreviventes do AVC é limitado.. O endereço do chat, que funciona pelo msn, é group25455@groupsim.com. É moderado por um grande amigo que também teve AVC, o Nelson.
Agradeço a todos pelo apoio, e convido os(as) que postem aqui também, e se desejarem aderir á campanha espiritual, enviaremos via e-mail o texto que está também na comunidade do Orkut.
Para contatos, mandem e-mail para: sobrevivi.avc@gmail.com, que colocaremos no ar a sua história ou de seu familiar.
Fiquem na paz, e não se esqueçam: fé,confiança e perseverança.!
Como lidar com as sequelas do AVC
Segundo a Organização Mundial de Saúde (OMS), as doenças do coração são a primeira causa de morte no mundo, responsáveis por cerca de 17,1 milhões de casos anualmente. Destes, 5,7 milhões estão relacionados ao AVC (acidente vascular cerebral), o popular "derrame".
Além do alto número de mortes, é alta também a chance de o indivíduo que sofre um AVC - e que não recebe tratamento a tempo – ficar com sequelas, algumas muito graves. Elas são bastante variadas e dependem da região do cérebro onde aconteceu a lesão.
Confira abaixo os tipos de AVC e as principais sequelas que eles podem deixar no paciente. Quanto mais preciso for o seu diagnostico, mais rápido um tratamento específico pode ser iniciado e mais chances o indivíduo terá de resgatar a sua independência.
O AVC isquêmico é o mais comum e acontece quando falta sangue em uma determinada região do cérebro, levando à morte das células por déficit de oxigênio. O dano é grave e pode atingir de forma definitiva o cérebro, caso não seja tratado rapidamente e de forma eficaz.
O AVC hemorrágico acontece por algum tipo de má-formação (aneurisma, angioma), e o resultado é uma inundação de sangue no cérebro. Este é considerado mais perigoso em primeira instância e possui maior índice de mortalidade, pois o volume de sangue pode causar maiores danos cerebrais. Contudo, a longo prazo, o sangue é reabsorvido e as sequelas podem ser menores, quando diagnosticado a tempo e de forma adequada, evitando lesões isquêmicas secundárias.
Paralisias As sequelas do acidente vascular cerebral são decorrentes do tipo de lesão, da extensão e da sua localização. Geralmente, a área mais afetada é a região irrigada pela artéria cerebral média, causando paralisia desproporcional do lado contrário do corpo (em que, na maioria das vezes, o membro superior é mais afetado do que inferior).
"Por isso, é comum vermos pacientes que voltam a andar, mas ficam com os movimentos do braço muitos limitados", explica a Dra. Cristiane Isabela de Almeida, fisiatra e gerente médica do Centro de Reabilitação do Einstein.
Déficit Sensitivo De difícil tratamento, a falta de sensibilidade causa uma sensação de anestesia parcial ou total do segmento do corpo afetado, e pode vir acompanhada ou não de dor. Muitas vezes, ele tem o movimento, mas como não sente, acaba por não utilizar a parte afetada.
"Para o indivíduo sadio, pegar um objeto é um ato normal, corriqueiro e automático. Em um paciente com déficit motor, este ato deverá ser planejado, visto que a pessoa deverá passar a calcular a distância, a força, o tipo de pressão, o peso. Em pacientes com sequelas sensitivas, este mesmo ato também vai precisar da compensação com a visão, além de todos os requisitos acima", conta a médica.
Afasias Em 95% das pessoas, o hemisfério dominante, onde se localiza o centro da linguagem, fica no lado esquerdo do cérebro. Por isso, é comum ao paciente que tem AVC do lado esquerdo apresentar paralisia à direita associada a um déficit de linguagem, chamada afasia, que se dividem predominantemente em três tipos:
Segundo a médica, os indivíduos afásicos têm a inteligência preservada e tendem a prestar atenção em dicas não-verbais que recebem do ambiente, em expressões faciais, musicalidade da voz, por vezes imitando movimentos e gestos das pessoas que os cercam. É como se tivessem que se comunicar por meio de uma língua com a qual não estão habituados.
Apraxias Geralmente, acompanham a lesão do hemisfério dominante em que, além da dificuldade na fala, a pessoa perde a capacidade de se expressar por gestos e mímicas. Muitas vezes, este tipo de comunicação só se dá se for intencional, espontânea. Os tipos de apraxias mais comuns são:
O tipo mais grave é a de apraxia de marcha. Segundo a fisiatra, o paciente não está paralisado, mas perde a sequência de movimentos necessária para o ato de andar.
A apraxia do vestir-se, dificuldade na sequência de posicionamento e colocação de roupas, ocorre nas lesões de hemisfério não-dominante.
Negligência Pode ocorrer em lesões do hemisfério não-dominante. E se caracteriza por uma falta de percepção da metade afetada do corpo, como se aquele segmento não lhe pertencesse.
É uma sequela muito grave, mas que, normalmente, desaparece ou se torna apenas uma desatenção depois dos três primeiros meses. Os quadros de negligência também podem ser de três tipos – motor, visual, sensitivo. O indivíduo tem o movimento, enxerga e sente, porém o cérebro não percebe estas possibilidades. "Essas pessoas não se importam com o que está acontecendo ao seu redor, falam em demasia e estão pouco comprometidas com o tratamento", explica a Dra. Cristiane Isabela.
Agnosia Visual Lesão que acontece na parte posterior do cérebro (área de recepção da visão), e que é conhecida por agnosia visual, em que o paciente não consegue reconhecer objetos visualmente.
Ele "enxerga, mas não vê". E isso pode influenciar negativamente inclusive em seu desempenho motor. E dependendo do local e do grau da lesão, a pessoa pode ter dificuldade em reconhecer rostos.
Déficit de Memória Outra sequela é o déficit de memória. E o mais comum é que os pacientes lembrem mais de coisas antigas do que de recentes. Se o paciente ''lembra que esquece", isso é, possui metamemória, a reabilitação é possível.
Lesões no Tronco Cerebral Geralmente, estas lesões possuem quadros motores muito graves, pois causam paralisia nos dois lados do corpo além de déficits associados (estrabismo, paralisia facial, desequilíbrio, disfagia ou dificuldade para engolir).
Aqui, o paciente tem a capacidade mental intacta, mas apresenta grave incoordenação motora e saliva em excesso. "Podem parecer ter deficiência mental, devido à falta de coordenação também na fala, sintoma conhecido como disartria. O caso mais grave deste tipo de lesão é conhecido como "Síndrome do Encarceramento", que foi abordado no filme O Escafandro e a Borboleta, do diretor Julian Schnabel", comenta a Dra. Cristiane Isabela.
Alterações Comportamentais Na parte da frente do cérebro estão localizadas as funções mais nobres do ser humano. Dependendo do local e da extensão da lesão, o paciente pode apresentar quadro de apatia ou de agitação. Em quadros de falta de iniciativa, podem ficar sem apetite e sem vontade de beber água. Nos de agitação, tendem a ficar sem crítica social – falam sem pensar –, e na maioria das vezes, podem ser explosivas quando contrariadas.
Depressão De acordo com a Dra. Cristiane Isabela, cerca da metade dos pacientes que tiveram AVC e ficaram com graves sequelas apresentam um quadro de depressão que necessitará de tratamento com medicação.
É muito importante fazer um diagnóstico preciso e detalhado das sequelas do AVC para que o prognóstico seja o mais assertivo possível. Para isso, é necessário classificar que tipo de incapacidade o paciente apresenta e fazer uma análise do tipo de tratamento a ser feito. De acordo com a médica, sequelas moderadas apresentadas pelo paciente devem ser estudadas com mais cuidado, pois se não forem estimuladas, não apresentarão a recuperação possível. Qualquer problema negligenciado pode atrapalhar no tratamento e na qualidade de vida dele.
O cérebro nunca para de tentar encontrar novos caminhos de recuperação. As células que foram atingidas e morreram não se recuperam, mas as que ficam próximas da área lesionada, conhecidas por zona de penumbra, podem ser recuperadas pelo menos parcialmente com o tratamento.
O tratamento de reabilitação do AVC deve ter início precoce e ser conduzido por um médico fisiatra, que fará o diagnóstico e o prognóstico das incapacidades. Dependendo do quadro do paciente, membros da equipe multiprofissional serão acionados e juntos farão o planejamento das terapias – fisioterapia, hidroterapia, terapia ocupacional, fonoaudiologia, psicologia, neuropsicologia, enfermagem de reabilitação, nutricionista, ortoptista – somadas a equipamentos de alta tecnologia.
De acordo com a fisiatra, em geral, 85% dos pacientes voltam a ser independentes em suas atividades de vida diária (alimentação, vestuário, higiene) e marcha, se tratados precocemente e de forma eficaz. E o retorno para as atividades estudantis e profissionais vai depender mais das dificuldades cognitivas que o paciente apresentar do que do seu quadro motor.
A reabilitação atua em duas frentes: treinando o paciente para sua independência, com o potencial de função que ele já apresenta, e estimulando mecanismos de neuroplasticidade - enviando informações corretas para a zona de penumbra, tentando recuperar ou desenvolver a função perdida.
O médico fisiatra faz o papel de ponte entre a equipe médica e a de terapeutas.
Publicado em setembro/2011